BREAKING

Na contramão das estatísticas, mulheres se destacam no comando de empresas da construção civil na região

Segundo o Sebrae-SP, elas ainda são minoria, mas são as que mais buscam se capacitar.

Bruna Ramos, moradora de Limeira é microempreendedora no ramo da pintura / Foto: Daiane Martins


Lauro Arttur

Segundo dados divulgados pelo Sebrae-SP, o número de empreendedoras ainda é menor do que o de homens na nossa região. No entanto, elas são maioria no comando dos negócios em alguns segmentos, como o de beleza e varejo de roupas e acessórios. Para além disso, algumas mulheres desafiam as estatísticas e conseguem se destacar em setores que normalmente são dominados por homens, como o da construção civil.

A analista de negócios do Sebrae-SP, Débora Rodrigues, diz que hoje as mulheres que decidem empreender conseguem encontrar boas oportunidades em vários segmentos, e não apenas nos que tradicionalmente são maioria. “Há mulheres que atuam em setores ligados à construção, por exemplo, e conseguem prosperar. É algo que há alguns anos era quase impensável, mas hoje em dia elas podem se destacar no setor que quiserem e ainda contribuir para a economia”, comemora.

É o caso de Bruna Ramos, pintora e moradora de Limeira. Ela trabalha no setor há cerca de 15 anos e começou ajudando o ex-marido com a parte financeira e administrativa da empresa. Depois, decidiu colocar “a mão na massa” e aprender a pintura. Atualmente, é microempreendedora individual (MEI) e optou por trabalhar sozinha. Nas redes sociais, Bruna compartilha a rotina nas obras e mostra o dia a dia de forma alegre e descontraída – e sempre uniformizada com um macacão rosa.

“Quando eu vi que eu conseguia fazer a parte prática, decidi aprender com os outros pintores a passar seladora, raspar parede, passar massa corrida. Fui fazendo um pouco aqui, um pouco lá, o pessoal sempre muito paciente, e eu fui pegando gosto”, lembra. Hoje, já não se vê longe do segmento e tem orgulho do próprio trabalho.

“Todo serviço que os homens fazem eu consigo fazer. Faço lixamento de massa corrida, verniz, reforço de pintura, resina... Faço meus pontos de equilíbrio quanto à quantidade de peso e vou trabalhando. Fui pegando gosto, agora eu amo pintar, amo demais.”

Também é a história de Valéria Oliveira, pintora de Iracemápolis que há 11 anos, após episódios de assédio moral, deixou um cargo de liderança em uma empresa para atuar na construção. Hoje, comanda o negócio ao lado do marido. “Nunca me imaginei trabalhando com pintura. Mas me apaixonei porque a área tem um leque muito grande de oportunidades. Essa profissão me proporciona aprender cada dia algo novo”, argumenta.

Valéria Oliveira, moradora de Iracemápolis, trabalha de maneira autônoma juntamente com o marido / Foto: Divulgação Sebrae-SP

“Não é fácil, mas também não é impossível. É só uma questão de fortalecimento. O que um homem consegue fazer, uma mulher também consegue. Se ele carrega 20 latas de tinta, ela também consegue, talvez pode demorar um pouco mais, mas faz também. Eu provei para muita gente que para mim não é problema carregar uma lata de tinta, montar um andaime, descarregar um carro. Basta ter força de vontade.”

Um dos trabalhos de Valéria Oliveira, moradora de Iracemápolis / Foto: Divulgação Sebrae-SP


Desafios

Apesar de amar o trabalho, Valéria reconhece que passou por alguns desafios no percurso até aqui. Ela afirma que hoje se sente à vontade nas obras, mas já sofreu preconceitos. “É mais comum do que se imagina. Às vezes é um preconceito velado, em outras, bem escancarado. Mas eu resolvo esse problema apenas com argumentos bem fundados. Quando você tem propriedade sobre o assunto, as pessoas costumam recuar”, explica.

Ela relata que no início muitas pessoas duvidaram que continuaria na construção. “Falavam que era só ‘fogo de palha’ e isso me desanimava um pouco, então eu tive receio e eu também me autossabotava. Só que eu sou uma pessoa muito teimosa e extremamente competitiva. Então, se alguém falar que eu não consigo, eu vou provar que consigo e ainda fazer melhor que ela. Eu fui teimando, lidando com a autossabotagem e provando que eu sabia fazer meu trabalho e muito bem-feito.”

Bruna também teve desafios: “Quando eu comecei, os pedreiros e o resto do pessoal da construção olhavam com cara feia, faziam pouco caso. Mas eu comecei a me impor. Hoje em dia os clientes ainda perguntam ‘mas é você que vai subir no telhado?’ ou ‘é você que vai lixar?’. Porque eles acreditam que algum homem que vai fazer, e não que eu vou lixar a parede, pintar, mexer com verniz”, conta Bruna. Para driblar esse problema, ela sempre faz questão de ressaltar a qualidade do serviço que entrega e, no fim, diz que os clientes sempre ficam positivamente surpresos com o resultado.

Outro desafio pessoal de Bruna foi enfrentar os próprios medos sobre entrar em uma profissão que normalmente é dominada por homens. “No início eu pensava se algum dia alguém ia me ver no meio de tantos homens. Tive força de vontade, coragem e principalmente fé. Eu me surpreendo comigo mesma, porque nem eu imaginava a força que eu tinha. O que me deixa feliz é ver onde eu estava, onde eu estou e para onde eu vou.”

Valéria apoia e incentiva o trabalho de outras mulheres que atuam na construção civil em todo país. “Conheço mulheres do Brasil inteiro, pintoras, pedreiras, eletricistas, encanadoras, instaladoras de drywall... Existem muitos grupos que proporcionam interação, e minha relação com elas é ótima, procuro ensinar sempre que há alguma dúvida e adoro aprender com as dicas também. É sempre uma aprendendo com a outra”, completa.

Bruna também gosta de trocar essas informações e adora quando é apontada como referência. Ela espera um futuro com mais mulheres no segmento. “Tem mulheres que me perguntam como é o serviço, como faz para entrar na construção civil. Muitas me tiram como referência e eu gosto disso. Seria ótimo se tivessem mais mulheres com a coragem de encarar essa área. Eu creio que ainda vou ver muita mulher trabalhando na construção civil, aquele campo cheio de chapeuzinhos rosas na obra”, finaliza.


Busca por capacitação

Conforme o Sebrae-SP com dados da Receita Federal, nos dois maiores municípios da região, Piracicaba e Limeira, o número de Microempreendedores Individuais (MEIs) é de 71.605 MEIs ativos, sendo 46,6% mulheres. Segundo Débora, apesar dos avanços que vem acontecendo nos últimos anos, elas ainda enfrentam desafios, mas são as que mais buscam se capacitar.

“No ano passado a maioria das pessoas atendidas no Sebrae em todo estado foi de mulheres. Isso mostra a intenção e vontade das mulheres empreendedoras de fazerem uma boa gestão e liderança. Muitas começam o negócio por estarem em situação vulnerável ou pela vontade de mudar de vida. Elas enfrentam várias barreiras, mas conseguem se reinventar por meio da capacitação”, afirma.

O Sebrae-SP tem um programa que incentiva, valoriza e acelera a jornada de mulheres empreendedoras ou que desejam empreender: o Sebrae Delas. Seu objetivo é impulsionar o empreendedorismo feminino, oferecendo orientação e inspiração para que as empreendedoras vendam mais, aumentem seus lucros, conquistem novos clientes e fechem contratos. Para saber a programação do Sebrae Delas na região de Piracicaba, acesse o grupo de WhatsApp: https://chat.whatsapp.com/HZzPxXZZIMb167R4HApZoO.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem